Origem do Studio PANaroma

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O Studio PANaroma de Música Eletroacústica da Unesp foi fundado oficialmente em julho de 1994. Em sua origem, surgiu através de um convênio de cooperação artística entre duas das mais respeitáveis instituições de ensino musical superior do Brasil: Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, Campus de São Paulo (Unesp), e a Faculdade Santa Marcelina (FASM).

A idéia da fundação do Studio PANaroma foi do Compositor Flo Menezes, Professor Doutor de Composição e Música Eletroacústica e primeiro Livre-Docente no Brasil (pela Unesp) na área da Composição Eletroacústica. A iniciativa contou com firme e decisivo apoio do então Diretor do Instituto de Artes da Unesp, Prof. Dr. John E. Boudler, da então Chefe do Departamento de Música da Unesp, Profa. Dra. Maria Helena Maestre Gios, da Diretoria da FASM, nas pessoas das Irmãs Maria Rachel Pires e Ângela Rivero, da então Coordenadora de Música da FASM, Vera Di Domenico. Após o término do convênio, o Studio PANaroma torna-se, a partir de junho de 2001, órgão autônomo da Unesp, com apoio da Diretora Marisa Trench de Oliveira Fonterrada e de Martha Herr, Chefe do Departamento de Música.

Ao final de 2004, o estúdio ganha nova sede, com amplo espaço de cerca de 170 m2, distribuídos em 3 estúdios de composição e um estúdio de gravação, e em 2008 transfere-se definitivamente para seu novo prédio na Barra Funda, com cerca de 300 m2, vários estúdios de composição, estúdio de gravação e um estúdio octofônico principal munido, entre outras coisas, com caixas acústicas Genelec, sistema ProTools HD e KYMA.

O Nome do Estúdio

PANaroma já era o título do Estúdio de Música Eletroacústica privado de Flo Menezes, fundado em 1991 na região de Bolonha, Itália (ver Figura abaixo), país no qual o compositor se especializava - após sua experiência de 1986 a 1990 junto ao Studio für elektronische Musik de Colônia, Alemanha - em música computacional junto ao Centro di Sonologia Computazionale da Universidade de Pádua.

Embora pareça um nome de origem tupi-guarani, o trocadilho “panaroma” foi criado pelo escritor irlandês James Joyce em sua importante obra Finnegans Wake, símbolo de complexidade, multi-referencialidade, elaboração, experimentalismo e vanguarda não só para a literatura, como também para a arte moderna em geral. Significa, a rigor, "aroma múltiplo", "panorama aromático".

O termo ganhou evidência no Brasil com a tradução parcial desta obra de Joyce por Augusto e Haroldo de Campos, intitulada Panaroma do Finnegans Wake.

Desta feita, caracteriza bem o sincretismo contemporâneo de nossa iniciativa, realçando, por um lado, nosso pioneiro papel no Brasil quanto à institucionalização profissional de um estúdio em âmbito universitário que pode, enfim, ser comparado em pé de igualdade com os principais estúdios do gênero fora do Brasil, e, por outro lado, a face internacionalista de nosso estúdio.

A Direção Artística e a Finalidade do Studio PANaroma

O Studio PANaroma é um estúdio de música eletroacústica de vanguarda, no ramo da música nova, contemporânea, especulativa ou simplesmente - como diria Theodor W. Adorno - radical (comumente designada, em nosso país, de música erudita contemporânea).

Sabemos da existência no Brasil, em especial nos grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, de inúmeros estúdios eletrônicos voltados à música popular brasileira e internacional, ao mercado dos jingles, às bandas-pop, às trilhas sonoras, à propaganda e à sonoplastia.

Nesse sentido, o Studio PANaroma de Música Eletroacústica da Unesp não faz concessão alguma à música de mercado: ele nasceu e continua com o firme propósito (idealista, mas de forma alguma utópico) de instituir, em âmbito universitário, um estúdio de composição eletroacústica que garantisse a jovens compositores dos Cursos de Composição Erudita, bem como a compositores convidados, a atuação altamente profissionalizante dentro deste que é, hoje, o principal ramo da composição musical contemporânea: a música eletroacústica (seja ela com ou sem a presença de instrumentos acústicos, com o sem o uso de recursos eletrônicos de transformação em tempo real).

Para tanto, a partir da fundação do Studio PANaroma foi possível, pela primeira vez no Brasil, a elaboração e homologação, na Unesp, do Bacharelado em Música com Habilitação em Composição com Ênfase em Composição Eletroacústica, assim como a implementação pioneira da primeira Pós-Graduação com defesa de tese ou dissertação sobre a composição eletroacústica.

Assim sendo, o Studio PANaroma é um centro de pesquisa e composição na área específica da música eletroacústica, e como tal configura-se, por suas atividades e repercussão nacional e internacional, como um dos principais e mais bem equipados americanos destinados exclusivamente à composição eletroacústica.

De fato, o Studio PANaroma tem sido considerado fora do Brasil como o principal estúdio do gênero na América Latina. Como todo e qualquer estúdio do gênero no mundo, o Studio PANaroma tem uma Direção Artística, desempenhada por um compositor atuante no meio (e, em geral, seu fundador). Tal direção norteia os rumos estéticos da produção do estúdio, orientando as atividades acadêmicas de pesquisa, de ensino e de divulgação de sua produção artística. Tal função é exercida, no Studio PANaroma, por seu fundador, o compositor Flo Menezes.

Atividades do Studio PANaroma

Muitas são as atividades do Studio PANaroma, criadas e desenvolvidas por seu Diretor Artístico. A seguir, a descrição sumária de cada atividade.

Arquivo de obras eletroacústicas

O Studio PANaroma dispõe de um rico arquivo com algumas centenas de obras eletroacústicas gravadas digitalmente, realizadas nos mais importantes centros de música eletroacústica do mundo. Esse acervo consiste, em grande parte, nas obras inscritas para as edições do CIMESP (vide abaixo). Além desse "Arquivo de Obras Eletroacústicas de Outros Estúdios", dispõe-se igualmente de um "Arquivo de Obras do Studio PANaroma" desde sua fundação, repertoriando toda a sua produção composicional.

O Studio PANaroma conta com inúmeras obras produzidas e realizadas em seus estúdios, sendo que várias delas já foram executadas fora do Brasil e algumas delas receberam importantes prêmios em concursos nacionais e internacionais de composição eletroacústica.

Concertos

O Studio PANaroma promove periodicamente séries de concertos de música contemporânea eletroacústica e/ou instrumental ("Panorama da Música de Vanguarda"; "Terceiro Milênio"; BIMESP; etc.), contando com assíduo público, e constituindo a mais importante atuação no Brasil para a divulgação da música eletroacústica. Somente até fins de 2001, data em que se concluiu o convênio que lhe deu origem, mais de 50 desses concertos tinham sido realizados.

Além desses concertos, o Studio PANaroma participa comumente de importantes festivais tanto no Brasil quanto no Exterior, divulgando sua produção musical no cenário nacional e internacional e divulgando entre nós significativas obras eletroacústicas realizadas dentro e fora do Brasil.

CIMESP

Bienalmente, a cada ano ímpar, realiza-se o Concurso Internacional de Música Eletroacústica de São Paulo (CIMESP), com ampla divulgação no Brasil e no Exterior.

Em sua primeira versão em 1995, dedicada a obras realizadas exclusivamente para tape solo, o CIMESP contou com 29 obras de 22 compositores de 9 países. Em sua segunda edição em 1997, contou já com 143 obras inscritas de 109 compositores de 32 nacionalidades provenientes de 23 países, ganhando notoriedade internacional. A terceira edição de 1999 contou com 210 obras de 159 compositores de 35 nacionalidades provenientes de 26 países. A quarta edição de 2001, com 204 obras de 160 compositores de 37 nacionalidades provenientes de 30 países, e assim por diante. Ou seja, logo em sua segunda edição o CIMESP passou a fazer parte obrigatória do calendário internacional da comunidade eletroacústica mundial, tornando-se o mais importante concurso do gênero nas Américas.

A premiação do CIMESP consiste na edição em CD das obras premiadas (Primeiro e Segundo Prêmios, conferidos pelo júri internacional, Prêmio do Público e Menções Honrosas).

Desde o 2º CIMESP 1997, o concurso se dedica a todas as categorias da música eletroacústica: acusmática (sons eletroacústicos), com instrumentos (música eletroacústica mista, para instrumentos e sons eletroacústicos), ou com eletrônica em tempo real (técnicas de processamento/síntese operadas ao vivo, também chamado de live-electronics).

BIMESP

Intercalando-se com o CIMESP, realiza-se bienalmente, a cada ano par, a Bienal Internacional de Música Eletroacústica de São Paulo (BIMESP).

Trata-se de um evento internacional (duração média: uma semana) constituído de uma série de Concertos-Painel, divulgando amplamente a música eletroacústica nacional e internacional desde suas origens até a atualidade. Eis alguns dos Concertos-Painel básicos que constituíram algumas edições até aqui já realizadas da BIMESP: Painel Histórico; Painel da Modernidade; Painel da Personagem; Painel da Interação; Painel dos Países e Painel do Studio PANaroma.

Já em sua primeira versão em 1996, a Bienal mostrou ao público paulista, em um semana, mais de 40 obras eletroacústicas realizadas nos mais importantes estúdios do mundo.

Em sua segunda edição, em 1998, fez parte das comemorações internacionais dos 50 anos da música eletroacústica, organizadas pelo GRM parisiense, apresentando 54 obras de 50 compositores de todo o mundo em 11 concertos e organizando especial homenagem aos 70 anos de Karlheinz Stockhausen, com curso especial ministrado por Flo Menezes sobre a obra do mestre alemão. Em resposta a esta iniciativa, Stockhausen convidou Flo Menezes a ingressar no corpo docente dos Stockhausen-Kurse em Kürten, Alemanha, onde Flo Menezes ministrou curso de análise em 1999 e 2001 para mais de 50 compositores e musicólogos de todo o mundo.

A partir de sua terceira edição em 2000, a BIMESP continuou com grande programação e contou com o apoio do SESC de São Paulo.

CDs / DVDs

A partir de 1996, Flo Menezes criou a série de CDs "Música Maximalista • Maximal Music", com livreto bilíngüe (português e inglês), divulgando a música contemporânea eletroacústica e/ou instrumental. A partir de 2005, a série conta também com DVDs.

Cada volume da série traz em sua capa, créditos, a reprodução de uma obra plástica de um importante artista plástico brasileiro, procurando, assim, divulgar a obra de jovens criadores dessa outra área da arte contemporânea brasileira.

Trata-se de uma das mais conhecidas e regulares series fonográficas de música eletroacústica do mundo. Os volumes publicados podem ser adquiridos em todo o mundo através da Internet pelo site da Electronic Music Foundation de Nova York:

www.emf.org

Além da série "Música Maximalista", realizam-se no Studio PANaroma com freqüência gravações para a produção de inúmeros CDs e espetáculos de reconhecida importância no cenário musical do Brasil, além da produção dos CDs que acompanham o livro Música Eletroacústica - História e Estéticas, publicado pela Edusp em 1996, e o livro Atualidade Estética da Música Eletroacústica, publicado pela FEU (Fundação Editora da Unesp) em 1998, e o livro A Acústica Musical em Palavras e Sons (Ateliê Editorial, São Paulo, 2004), todos de Flo Menezes, e que constituem os primeiros livros sobre a música eletroacústica publicados no Brasil.

Produção de obras eletroacústicas

Esta constitui uma das atividades mais intensas do dia a dia do Studio PANaroma: a realização musical de novas composições eletroacústicas tanto de alunos da Unesp quanto de compositores convidados por sua Direção Artística a desenvolverem projetos de composição junto ao estúdio.

Aulas, Conferências e Workshops

O Studio PANaroma não se limita, entretanto, à realização de novas obras. Seu caráter didático é uma de suas marcas fundamentais. Os aparelhos são comumente utilizados em simpósios, conferências e workshops de compositores convidados e aulas coletivas sobre Acústica, Teoria da Música Eletroacústica, e Composição Eletroacústica ministradas pelo Diretor Artístico.

O estúdio já contou com a participação como conferencistas, entre outros, dos ilustres compositores Pierre Boulez (França), Hans Humpert (Alemanha), Léo Küpper (Bélgica), Hans Tutschku (Alemanha; um dos vencedores do 1º CIMESP), Christian Calon e Gilles Gobeil (Canadá) e muitos outros, assim como da visita de inúmeros musicólogos, pesquisadores e compositores (tais como, por exemplo, Mikhail Malt, Dieter Schnebel, Jean-Yves Bosseur, Ralph Paland, etc). Dentro das atividades da II BIMESP '98, Flo Menezes ministrou, em outubro e novembro, um denso curso sobre "A Obra de Karlheinz Stockhausen", com 14 blocos de 3 horas de duração cada, analisando inúmeras composições eletroacústicas e instrumentais de Stockhausen, com apoio do próprio compositor alemão.

Pós-graduação e Pesquisa

Além dos cursos de Graduação na área da Composição, institui-se pela Unesp, a partir de 1996, a possibilidade do acesso ao Studio PANaroma a alunos selecionados pelo Curso de Pós-Graduação do Instituto de Artes da Unesp para obtenção do título de Mestrado em Música com especialização em Composição Eletroacústica ou com abordagem sobre aspectos da música contemporânea e, a partir de 2009, para obtenção do título de Doutor, sob Orientação de seu Diretor Artístico, Flo Menezes.

Recursos do Studio PANaroma e Auto-Gestão

Três tipos de recursos devem ser aqui considerados: recursos humanos; recursos tecnológicos; e recursos financeiros.

Recursos Humanos

Além de Flo Menezes (Fundador e Diretor Artístico do estúdio), o Studio PANaroma contou com o conceituado produtor musical Alê Siqueira como seu primeiro assistente (atuando de 1993 a 1998) e, posteriormente, com o trabalho técnico do assistente Ignacio de Campos (de março de 1998 a novembro de 2001).

Recursos Tecnológicos

Com regular apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o Studio PANaroma conta com um moderno arsenal tecnológico para a composição eletroacústica, munido de diversos sistemas autônomos e inúmeros recursos (ProTools, KYMA, interface MOTU, sistemas octofônicos, quadrifônicos e estereofônicos Genelec, Mackie, RCF, Fórum-IRCAM, GRM-Tools, etc.).

A partir de 2002, o Studio PANaroma conta com a fundação do PUTS: PANaroma/Unesp - Teatro Sonoro, a primeira orquestra de alto-falantes do Brasil, com dispositivo tecnológico de ponta para a difusão eletroacústica, com grupos de alto-falantes móveis e de altíssima qualidade, de obras eletroacústicas das mais variadas tendências.

Recursos Financeiros

A proposta do Studio PANaroma é a de auto-gestão. Isto significa que o estúdio procura se auto-gerenciar financeiramente, não constituindo, em princípio, despesas extraordinárias para sua instituição a fim de que possa desenvolver todas as suas atividades de pesquisa e de produção de obras eletroacústicas. Regularmente o Studio PANaroma conta com o apoio da FAPESP.

Fórum-IRCAM e Intercâmbio com o Exterior

O Studio PANaroma de Música Eletroacústica da Unesp foi o primeiro estúdio brasileiro a fazer parte, já desde 1995, do importante programa de intercâmbio denominado Fórum-IRCAM. Dessa forma, foi o primeiro estúdio no Brasil a dispor de todos os programas computacionais de síntese sonora, tratamento sonoro, interação em tempo real, e cálculo de estruturas musicais desenvolvidos pelo principal Estúdio de Música Computacional do mundo, o IRCAM parisiense: Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique, fundado nos anos 70 e presidido até hoje pelo eminente compositor francês Pierre Boulez, que em outubro de 1996 honrou o Studio PANaroma com sua visita, notificada amplamente pela imprensa francesa como um dos pontos altos de sua turnê pela América do Sul ("Le Monde", artigo na Internet da Associação dos Críticos da França).

Além disso, o Studio PANaroma mantém fortes vínculos e intercâmbios, entre outros importantes estúdios e instituições musicais mundo afora, com o prestigioso Studio für elektronische Musik da Escola Superior de Música de Colônia, Alemanha; com o GRM (Groupe de Recherches Musicales) de Paris; com o Musikwissenschaftliches Institut da Universidade de Colônia, Alemanha; com a Universidade Lanús de Buenos Aires; com o estúdio Musiques & Recherches de Ohain, Bélgica; com o BEAST - Birmingham Electro-Acoustic Sound Theatre, Inglaterra; entre outros.

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